No ano de 1984 um filme de origem
americana chegou aos cinemas causando grande comoção – Ghostbuster, ou Os
Caça-Fantasmas. Em 1989 ganharia uma continuação intitulada apenas Os
Caça-Fantasmas II, decorrência direta do sucesso da primeira aventura de três
parapsicólogos que estudam fenômenos psíquicos, e fazem da caça e captura de
fantasmas sua profissão. Alguns dos conceitos comuns a parapsicologia, e a
certas correntes de estudo e pesquisa espiritualista já se encontravam presentes
no primeiro filme, mas é em sua continuação que curioso elemento da trama
interessa. Havendo encontrado um rio do que as personagens de Dan Aykroyd e
Harold Ramis chamam de lodo psicoativo sob a cidade de Nova York, eles
colhem uma amostra e com este fazem uma série de experimentos, animando uma
torradeira que reage a música, por exemplo. Qualquer indivíduo mais ou menos
familiarizado aos conceitos da Doutrina dos Espíritos viu ali o fluido – na
realidade, o fluido está presente desde o primeiro filme, quando afirmado de
que tal substância são constituídos os fantasmas. De fato, a personagem de Bill
Murray é quem acaba se havendo em lidar com os resquícios deixados pela
passagem dos espectros, um fluido mais semelhante a um gel do que aquele que já
se observou em sessões reais de materialização.
Para algumas correntes de estudos
e pesquisa de fenômenos mediúnicos, da qual o filme lança mão em seus
elementos, o fluido é chamado de ectoplasma – o termo foi cunhado em 1894 por
Charles Richet, inventor da Metapsíquica. O uso errôneo deste termo para
designar o fluido quando sofre certa condensação nos fenômenos de
materialização é comum nos meios supostamente espíritas. Que fique claro, o
termo é da Metapsíquica e não do Espiritismo; e, se nos permitamos o parêntese,
Charles Richet embora francês, pouco deu atenção ao Espiritismo de Allan
Kardec. Em O Tratado de Metapsíquica, um catatau de mais de 600 páginas,
dedica poucas linhas a ele, equivocando-se ao trata-lo como médico; não apenas
isso:
“Essa
teoria tem entretanto, um lado fraco, dolorosamente fraco. Toda a construção do
sistema filosófico de Allan Kardec (que é aquela mesma do espiritismo) tem por
base está brilhante hipótese de que os médiuns, nos quais se diz que os
espíritos estão incorporados, não se enganam nunca, e que as escritas
automáticas nos revelam verdades que é necessário aceitar, a não ser que esteja
influenciado por maus espíritos. Nestas condições, se acompanhamos a teoria de
Allan Kardec, seremos também levados a aceitar como dinheiro contado todas as
divagações do inconsciente, as quais, salvo exceções, dão sempre mostra de
uma muito primitiva e pueril inteligência. É um erro bem grave construir uma
doutrina com as palavras dos tais espíritos, que são pobres espíritos.”
Uma opinião que apenas pode ser
exarada de alguém que jamais leu a obra espírita, que jamais pôs olhos a, por
exemplo, o capítulo XXI de O Evangelho Segundo o Espiritismo. À segunda
edição de sua obra, entretanto, Richet surge cheio de queixumes diante da
repercussão desta entre os espíritas franceses:
“Os
espíritas receberam o meu Tratado de Metapsíquica com grande frieza. Compreendo
o seu estado de espírito. Em vez de aceitar a sua teoria ingênua e frágil,
propus aguardar, para se constituir qualquer teoria defensável, que os fatos
fossem classificados, codificados, marcados, acompanhando-os das necessárias
exigências do método experimental. Ao contrário, os espíritas julgam possuir já
uma explicação adequada para todos os fenômenos. Disse-lhes que a sua
explicação era hipotética, mas não hesitei em reconhecer que em certos casos,
raros, a hipótese espírita, simplista, parecia ser preferível. Creio bem que
isso não é senão uma aparência. Portanto a aparência continua nela. Se os
espíritas fossem justos, reconheceriam que a minha tentativa de fazer entrar na
ordem dos fatos científicos todos os fenômenos que constituem a base de sua fé,
mereceria eu verdadeiramente alguma indulgência.”
Suscita a qualquer estudioso do
Espiritismo indagar das razões de tão indisfarçável ressentimento, visto que as
inferências de Charles Richet parecem apriorísticas; não seriam os adeptos da
Doutrina dos Espíritos a constatar como frágil e ingênuo quem afirma que
Espíritos incorporam em médiuns, ou que Allan Kardec não dispensou linhas sem
fim a expor critérios para o exame das mensagens dos Espíritos? Este é, tão
somente, um capítulo mais na senda dos caminhos tortuosos pelos quais seguiram
e seguem os aderentes da realidade do Espírito, que antes de haverem deixado de
lado suas diferenças, coerentemente agindo diante da evidência de uma
existência espiritual, a essencial, parecem haver se guiado pelos anseios do
ego e do egoísmo, valorizando mais a matéria.
Diversamente do que ocorre em
Caça-Fantasmas II, o ectoplasma, ou antes o fluido num estado particular de
condensação, não é uma substância de fácil aquisição, tampouco de fácil
conservação - Juliette Bisson, como o
descreve Arthur Conan Doyle em seu livro A História do Espiritualismo,
madame da sociedade francesa e entusiasta dos fenômenos mediúnicos, empreendeu
cinco anos de constantes experimentos com a médium Marthe Béraud, cognominada
Eva Carrière, a quem adotou como uma filha. Em tais sessões, o cientista alemão
Dr. Schrenck Notzing controlava estritamente as condições para evitar fraudes,
e o resultado está hoje nos anais do espiritualismo mundial - o autor, acerca
destes afirma curiosa iniciativa dos experimentadores:
“Com o consentimento da médium
foi cortada uma pequena porção (do fluido). Dissolveu-se na caixa em que foi
colocada, como se fosse neve, deixando umidade e algumas células que poderiam
provir de um fungo. O microscópio demonstrou células epiteliais da membrana
mucosa, das quais a coisa parecia originar-se.”
Em outras ocasiões, com
diferentes médiuns e pesquisadores, obteve-se toda sorte de substâncias,
inclusive cabelo humano colhido de uma pequena cabeça materializada,
demonstrando tratar-se esta de matéria volátil, flexível, capaz de assumir
formas, texturas e propriedades ao sabor dos pedidos daqueles que desejaram com
ela colher resultados peremptórios, atestando sua existência de modo inegável.
Estes e outros tantos relatos em que o fluido condensado (ou ectoplasma como
querem os adeptos da Metapsíquica) facultou a materialização de Espíritos, traz
a memória os registros dos experimentos de Sir William Crookes com a médium
Florence Cook, cuja mediunidade manifestava o Espírito de uma moça chamada
Katie King. Ao tomar-lhe o pulso o cirurgião Dr. James M. Gully, nada pode
aferir buscando-lhe os batimentos cardíacos - porém, ao que o Espírito
compreendendo o objetivo deste, fez reagir-lhe a substância fluídica de que se
constituía, apresentando na sequência uma pulsação firme qual se se contasse de
retorno ao mundo dos encarnados.
1- O
que é o perispírito?
“93. O Espírito, propriamente
dito, está a descoberto ou, como alguns o pretendem, encontra-se envolto numa
substância qualquer?
O Espírito é envolvido por uma
substância vaporosa para ti, porém, ainda muito grosseira para nós; todavia,
bastante vaporosa para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se para onde ele queira.”
“Além desse invólucro material, tem o Espírito um
segundo, semimaterial, que o liga ao primeiro.
Por ocasião da morte, despoja-se deste, porém não do outro, a que damos o nome de perispírito.” - O Livro dos Médiuns, 1º
parte, cap. 1, item 3
“O perispírito faz, portanto, parte integrante
do Espírito, como o corpo o faz do homem. Porém, o perispírito, só por só, não
é o Espírito, do mesmo modo que só o corpo não constitui o homem, porquanto o
perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o homem: o
agente ou instrumento de sua ação.”
- O Livro dos Médiuns, 2º parte, cap. 1, item 55
2- Qual a função do
perispírito?
“Esse invólucro semimaterial, que tem a forma humana,
constitui para o Espírito um corpo fluídico, vaporoso, mas que, pelo fato de
nos ser invisível no seu estado normal, não deixa de ter algumas das
propriedades da matéria.” - O Livro dos Médiuns, 1º parte, cap. 1, item 3
“Esse segundo invólucro da alma, ou perispírito, existe, pois, durante a vida
corpórea; é o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe e pelo
qual transmite sua vontade ao exterior e atua sobre os órgãos do corpo. Para
nos servirmos de uma comparação material, diremos que é o fio elétrico
condutor, que serve para a recepção e a transmissão do pensamento; é, em suma,
esse agente misterioso, imperceptível, conhecido pelo nome de fluido nervoso,
que desempenha tão grande papel na economia orgânica e que ainda não se leva
muito em conta nos fenômenos fisiológicos e
patológicos.” - O Livro dos Médiuns, 2º parte,
cap.1, item 54
“Pela sua essência espiritual, o Espírito é um ser
indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria, sendo-lhe
indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo
modo, faz parte integrante dele. É semimaterial esse envoltório, isto é,
pertence à matéria pela sua origem e à espiritualidade pela sua natureza
etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido cósmico universal que,
nessa circunstância, sofre uma modificação especial. Esse envoltório,
denominado perispírito, faz de um ser abstrato, do Espírito, um ser concreto,
definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto a atuar sobre a matéria
tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são,
como se sabe, os mais poderosos motores. O fluido perispirítico constitui,
pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo,
serve-lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas
partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer
que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam.
Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao
fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.”
- A Gênese, cap. 11, item 17
3- Qual a origem do perispírito?
“94. De onde o Espírito retira seu envoltório semi-material?
Do fluido universal de cada globo. É por isso que não é
idêntico em todos os mundos; passando de um mundo a outro, o Espírito muda de
envoltório, como mudais de roupa.”
- O Livro dos Espíritos
“135a) Qual a natureza desse elo?
Semimaterial, isto é, intermediária entre o Espírito e o
corpo. E é preciso que assim seja, para que eles possam comunicar-se um com o
outro. É através desse elo que o Espírito age sobre a matéria
e reciprocamente.” - O Livro dos Espíritos
“O
perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido
cósmico; é uma condensação desse fluido em torno de um foco
de inteligência ou alma.”
- A Gênese, cap. 14, item 7
4- Como se relaciona o
perispírito ao progresso do Espírito?
“94a) Assim, quando os
Espíritos que habitam mundos superiores vêm até nós, tomam um perispírito mais
grosseiro?
É preciso que se revistam da vossa matéria; já o dissemos.” - O Livro dos Espíritos
“186. Haverá mundos em que o
Espírito, deixando de habitar um corpo material, só tenha como envoltório o
perispírito?
Sim; e até mesmo esse
envoltório se torna tão etéreo, que para vós é como se ele não existisse; este é, então, o
estado dos puros Espíritos.” - O Livro dos Espíritos
“187. A substância do perispírito é a mesma em todos os
mundos?
Não; ela é mais ou menos etérea. Passando de um mundo a
outro, o Espírito se reveste da matéria própria de cada um; e essa mudança é
tão rápida quanto o relâmpago.”
- O Livro dos Espíritos
“Mas, qualquer que seja o grau em que se encontre, o Espírito
está sempre revestido de um envoltório, ou perispírito, cuja natureza se
eteriza, à medida que ele se depura e eleva na hierarquia espiritual.” - O
Livro dos Médiuns, 2º parte, cap. 1, item 55
“Esse envoltório, haurido no
meio ambiente, varia, conforme a natureza dos mundos. Passando de um mundo ao
outro, os Espíritos mudam de envoltório como mudamos de roupa, ao passar do
inverno para o verão, ou do pólo ao Equador. Os Espíritos mais elevados, quando
vêm nos visitar, revestem, portanto, o perispírito terrestre e, então, suas
percepções se produzem como nos nossos Espíritos comuns;” - O Livro dos Espíritos, item 257
5- Quais são as propriedades
do perispírito?
“95. O envoltório semimaterial
do Espírito dispõe de formas determinadas e pode ser perceptível?
Sim, uma forma correspondente
à vontade do Espírito; é assim que ele vos aparece algumas vezes, quer nos
sonhos, quer no estado de vigília, e que pode tomar uma forma visível e até mesmo palpável.” - O Livro dos Espíritos
“Por
sua natureza e em seu estado normal, o perispírito é invisível (…) Mas, (…) pode
ele sofrer modificações que o tornem perceptível à vista, quer por meio de uma
espécie de condensação, quer por meio de uma mudança na disposição de suas
moléculas. Aparece-nos então sob uma forma vaporosa. A condensação (…) dizemos,
pode ser tal que o perispírito adquira as propriedades de um corpo sólido e tangível,
conservando, porém, a possibilidade de retomar instantaneamente seu estado
etéreo e invisível.” - O Livro dos Médiuns, 2º parte, cap. 6, item 105
“O perispírito pode variar de
aparência, modificar-se ao infinito; a alma é a
inteligência, não muda a sua natureza.” - O Livro dos
Médiuns, 1º parte, cap. 4, item 51
“Mas a matéria sutil do perispírito não possui a
tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; é, se assim nos podemos
exprimir, flexível e expansível, donde resulta que a forma que toma, conquanto
decalcada na do corpo, não é absoluta, amolga-se à vontade do Espírito, que lhe
pode dar a aparência que entenda, ao passo que o invólucro sólido
lhe oferece invencível resistência.” - O Livro dos
Médiuns, 2º parte, cap. 1, item 56
“O Espírito, encarnado,
conserva, com as qualidades que lhe são próprias, o seu perispírito que, como
se sabe, não fica circunscrito pelo corpo, mas irradia ao seu derredor e o
envolve como que de uma atmosfera fluídica. (…) Sendo o
perispírito dos encarnados de natureza idêntica à dos fluidos espirituais,
ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses
fluidos exercem sobre o perispírito uma ação tanto mais direta, quanto, por sua
expansão e sua irradiação, o perispírito com eles se confunde.”
- A Gênese, cap. 14, item 18
“Criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no envoltório
perispirítico, como num espelho, ou ainda como essas imagens de objetos
terrestres que se refletem nos vapores do ar; toma nele corpo e aí, de certo
modo se fotografa. Tenha um homem, por exemplo, a ideia de matar a outro:
embora o corpo material se lhe conserve impassível, seu corpo fluídico é posto
em ação pelo pensamento e reproduz todos os matizes deste último; executa
fluidicamente o gesto, o ato que intentou praticar. O pensamento cria a imagem
da vítima e a cena inteira é pintada, como num quadro, tal qual se lhe
desenrola no Espírito. Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma
repercutem no envoltório fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num
livro e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo. Os olhos do corpo veem
as impressões interiores que se refletem nos traços do rosto: a cólera, a
alegria, a tristeza; mas a alma vê nos traços da alma os pensamentos que não se
traduzem no exterior.” - Revista Espírita, junho de 1868, Fotografia do
Pensamento
“Em muitos passos do Evangelho
se lê: 'Mas, Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, lhes diz...' Ora, como
poderia Ele conhecer os pensamentos dos seus interlocutores, senão pelas
irradiações fluídicas desses pensamentos e, ao mesmo tempo, pela vista
espiritual que lhe permitia ler-lhes no foro íntimo? Muitas vezes, supondo que
um pensamento se acha sepultado nos refolhos da alma, o homem não suspeita que
traz em si um espelho onde se reflete aquele pensamento, um revelador na sua
própria irradiação fluídica, impregnada dele. Se víssemos o mecanismo do mundo invisível
que nos cerca, as ramificações dos fios condutores do pensamento, a ligarem
todos os seres inteligentes, corporais e incorpóreos, os eflúvios fluídicos
carregados das marcas do mundo moral, os quais como correntes aéreas,
atravessam o espaço, muito menos surpreendidos ficaríamos diante de certos
efeitos que a ignorância atribui ao acaso.” - A Gênese, cap. 15, item 9
Apesar de todo este conhecimento
assim exposto, muitas pessoas guardam sérias ressalvas a alguns pontos que lhes
parecem, por falta de instrução, obscuros em demasia – há muito mais a ser
obtido pela leitura e estudo das Obras Básicas, comunicações, mensagens e
explicações detalhadas que constam da Revista Espírita; e não se dê o sujeito
por satisfeito, há uma série de experimentadores, pesquisadores e catalogadores
de fenômenos mediúnicos, coetâneos de Allan Kardec e posteriores, cujas
descrições e estudos de caso valem a pena serem lidos e examinados,
acautelando-se, todavia, de suas conclusões que podem, por certo, passarem ao
largo da Doutrina dos Espíritos. Um de tais pontos diz respeito precisamente a
questão que dá título ao presente artigo – parece mote de dúvida que o
Espírito, e consequentemente o perispírito que o envolve, possa variar de
estatura de maneira abrupta e acentuada. A apreciação das Obras Básicas resulta
compreender que a forma humana é a adotada universalmente pelos Espíritos, e
que o perispírito pode
variar de aparência, modificar-se ao infinito.
Pode-se, no mais, especular das razões de tal resistência diante de fenômeno
tão natural e corriqueiro – doutrinas e sistemas de ideias completamente
estranhos ao Espiritismo, vicejando aqui ora acolá podem ser apontados como os
responsáveis pelo domínio universal da ignorância. No entanto, sem lhes dar o
crédito de uma análise, em vista de já as haver examinado em vários dos artigos
aqui publicados, basta que se constate haver um materialismo nas entrelinhas
que concebem o perispírito como possuidor de órgãos, tal e qual o corpo físico
– basta o estudo para ver a verdade.
A título de exercitar o mais fundamental
didatismo, observemos as figuras retratadas acima – lado a lado estão,
separados por décadas, o homem mais alto do mundo de que se tem registro, o
norte-americano Robert Wadlow, que até o momento de sua morte jamais parou de
crescer, atingindo incríveis 2m72cm. de altura., e o nepalês Chandra Dangi, que
a seu turno, é considerado o menor ser humano registrado, não tendo
ultrapassado míseros 0,55cm. de altura. Para se ter uma ideia da discrepância,
os pés de Robert Wadlow, considerados os maiores do mundo, mediam 0,47cm.; ou
seja, Chandra Dangi era pouco maior que os pés do mais alto ser humano de todos
os tempos. Ao não se levar em conta a imaterialidade do Espírito, tampouco a
maleabilidade do perispírito, não se pode conceber tamanha desconformidade.
Quando trata das comunicações recebidas acerca de Júpiter, Allan Kardec obtêm
informes acerca da estatura física de seus habitantes por Bernard Palissy, que
afirma serem estes 'grandes e bem proporcionado. Maiores que os vossos
maiores homens.' - não fosse tudo quanto fora exposto, como explicar as
dimensões dos seres espirituais? Podemos ainda, obter de outras fontes,
registros bastante curiosos acerca do que nós mesmos fomos testemunha. Mas
antes que possam ser apreciados, no tocante a natureza do Espírito, o ser
principal, as Obras Básicas possuem alguns trechos oportunos para o estudo, e
para o entendimento que se busca alcançar pelo presente exposto, vale a pena
lê-los:
“23a) Qual a
natureza íntima do espírito?
Não é fácil analisar o espírito com a vossa linguagem. Para
vós, nada é, porque o espírito não é uma coisa palpável; mas, para nós, é
alguma coisa. Sabei-o bem, o nada é coisa alguma; o nada não
existe.” - O Livro dos Espíritos
“82. É
correto dizer que os Espíritos são imateriais?
Como se pode definir uma coisa, quando faltam termos de
comparação e com uma linguagem ineficiente? Um cego de nascença pode definir a
luz? Imaterial não é bem a palavra; incorpóreo seria mais exato, pois deves
compreender bem que o Espírito, sendo uma criação, deve ser alguma coisa; é
matéria quintenssenciada, porém, sem analogia para vós, e tão etérea que não
pode ser percebida pelos vossos sentidos.”
- O Livro dos Espíritos
“Quanto à natureza intima da alma, essa desconhecemo-la.
Quando se diz que a alma é imaterial, deve-se
entendê-lo em sentido relativo, não em sentido absoluto, por isso que a
imaterialidade absoluta seria o nada. Ora, a alma, ou o Espírito, são
alguma coisa. Qualificando-a de imaterial, quer-se dizer que sua essência é de
tal modo superior, que nenhuma analogia tem com o que chamamos matéria
e que, assim, para nós, ela é imaterial.” - O Livro dos Médiuns,
1º parte, cap.4, item 50
Muitas partes mais
apenas resultariam em ratificar que a natureza do Espírito, é esta
desconhecida; porém, afirmá-la-emos imaterial a partir do momento que os
parâmetros para defini-lo são única e exclusivamente materiais, o que
resultaria, sob quaisquer tentativas, todas equivocadas. Isto posto, cabe expor
as razões, ou antes os casos que motivaram a existência da presente postagem -
certa feita uma garota de nosso convívio, com cerca de 3 anos de idade, passou a ter seu
sono perturbado – inquieta, despertava-lhe a agitação e a excitação nos
instantes que antecediam o repouso noturno. Nenhum procedimento era possível de
fazê-la pacificar. Parecia divertir-se ainda com as tentativas vãs de
acalmá-la. Tendo a mediunidade um caráter hereditário1 e já sendo de
nosso conhecimento que a mãe desta era, não apenas médium sonambúlica como
psicofônica, deitamos a esta fluidos por meio de passes, diante da suspeita que
um Espírito respondia pelo alvoroço. E tal qual se imaginara, o desencarnado
viera manifestar-se por intermédio desta – tratou-se de Espírito ligado as
cousas próprias da infância, que apreciava brincar com a garota, travestindo-se
de palhaço; este detalhe, aliás, correspondia às alegações da pequena que
afirmava a antevisão do bufão. Dialogamos algum tempo com o Espírito que,
infantilizado em demasia, parecia irredutível em sua intenção de divertir-se
com a criança encarnada. Desde que é de conhecimento geral o caráter
inconstante das crianças, firmamos acordo com o Espírito para que viesse
brincar com a menina apenas durante seu repouso, jamais antes, contando que
dentro em pouco este partiria em busca de novos parceiros de algazarra. Ainda,
perguntamos há quanto se encontrava ali, interagindo com a criança, ao que nos
respondeu que achegara-se fazia poucos dias, agitando-se a noite e repousando
algum tempo num móvel que havia no aposento desta pela manhã, vez por outra a
acompanhando ao ambiente escolar – o móvel a que o Espírito se referia, e o fez
com afirmação contundente, era uma réplica de cerca de 30 centímetros de
comprimento por 20 centímetros de altura de uma cristaleira, confeccionada pelo
bisavô da menina, marceneiro de reconhecida habilidade.
Encantado pelo brinquedo, fez-nos prometer que o
penduraríamos, visto que fora confeccionado com tal propósito – promessa jamais
cumprida pois, como imaginado, o Espírito dali a tanto partira sem mais que sua
presença fosse sentida. A criança, explica-se, podia bem ter os rudimentos da
mediunidade àquela idade, mas sua excitação a visão do histrião decorria do seu
estado de espírito, já relativamente liberto das amarras do corpo físico nos
instantes precedentes ao repouso. Quanto a moradia diminuta do Espírito,
poderíamos explicá-lo por duas hipóteses apenas – ou o Espírito, como toda
criança mais ou menos deseducada, incorrera numa mentira; ou dissera a verdade,
de fato fazendo da réplica sua habitação temporária. Em sendo este o caso, como
seria possível? Tudo quanto fora exposto até então pode explicar coerentemente
este caso; e o seguinte - por ocasião de haver-se feito necessário proceder a
organização de um móvel, um armário de aço de boa dimensão e resistência
destinado a conter toda sorte de documentos, decorreu dali a algum tempo, em
sessão de experimentação mediúnica manifestar-se um Espírito em patente
exaltação emocional, revoltado com a arrumação que empreendemos – explicou: o
Espírito fizera do armário de aço sua casa, seu lar; habitava por entre as
subdivisões deste. Detalhe: entre as prateleiras, não distam mais que 30
centímetros de altura. Por entre os volumes formados pelo amontoado de obras e
documentos, um ser humano, por mais diminuto fosse, não poderia tomar lugar
ali. Como explicar o fato? Uma vez mais, tudo já se encontra explicado. Porém,
apanhemos dos alfarrábios de reportado pesquisador para constatar-se a natureza
do Espírito e do perispírito.
Ernesto Bozzano, abalizado catalogador de
fenômenos mediúnicos, espiritualista e pesquisador, em sua obra Materializações
de Espíritos em Proporções Minúsculas, transcreve ele trechos do livro de
Anne Louise Fletcher, A Morte Sem Véu. Esta autora, em reunião de
experimentação mediúnica com a médium Ada Bessenet Toledo, estando ladeada pelo
metapsiquista americano Dr. Hereward Carrington, por ocasião desta narra alguns
fatos mui pertinentes:
“O fenômeno, porém, que mais me surpreendeu,
interessando-me grandemente, foi a materialização de uma figura com a altura de
14 polegadas (cerca de 35 centímetros), cercada de longo manto
flutuante, a qual se pôs a dançar na mesa entre mim e o Dr. Carrington
(estávamos sentados um defronte do outro). (…) era bem uma mulherzinha viva,
perfeitamente normal, salvo no que concerne às suas proporções minúsculas.”
Noutro caso colhido pelo pesquisador italiano,
também catalogado na obra, o comandante da artilharia inglesa C. C. Colley, que
fora defensor ferrenho do espiritualismo, narra caso ocorrido consigo em 1898;
quando em sessão de experimentação mediúnica em que estavam presentes além de
si, o anfitrião proprietário da casa onde se dava esta, sua filha e o médium.
Por tais termos ele descreve o ocorrido:
“O médium estava mergulhado em profundo
transe. De repente, vi sair de seu lado algo parecendo o vapor de uma chaleira
fervendo. Esse vapor tomou a forma de um tubo – que chamaremos o condutor da
substância – que se alongou até atingir o centro da mesa oval em torno da qual
estávamos sentados. Aí ele se transformou numa nuvenzinha de cerca de dois pés
de diâmetro (cerca de 60 centímetros) que não tardou a tomar a forma de
uma bela boneca da altura de 18 polegadas (cerca de 45 centímetros), que
se pôs a passear graciosamente na mesa, como se fosse a miniatura viva de um
Espírito. Ela se apresentou diante de cada um de nós com muita naturalidade e,
finalmente, sentou-se em meus joelhos. Tive o privilégio de apertar-lhe a mão,
que não era maior do que o meu polegar.”
Ainda, uma história mais, recolhida da mesma
obra de Bozzano, tendo ocorrido ao experimentador neozelandês E. H. Saché, de
Auckland, por meio da médium Lily Hope, na década de 1920 – recebeu a esta em
sua residência com o fito de realizar uma série de sessões experimentais, dentre
as quais colheu-se o extrato abaixo, onde Saché anota:
“Houve um curto intervalo de repouso, depois
do qual vimos aparecer, no meio de nós, uma figurinha com a altura de 30
polegadas (76 centímetros aproximadamente), a qual, sorrindo, nos
dirigiu a palavra. Ela diz ser Sunrise, que deixara, por alguns instantes, o
controle da médium a fim de mostrar-se a nós. Perguntamos-lhe por que se
manifestava em dimensões tão reduzidas e ela respondeu que assim o fizera para
não gastar muita força. Tendo lhe pedido que permanecesse entre nós mais algum
tempo do que as outras manifestações, sorriu, fez um sinal negativo com a
mãozinha e desapareceu.”
É de causar, portanto, algum espanto que
Espíritos possam tomar dimensões minúsculas, mesmo ao manifestarem-se visíveis e
tangíveis em sessões de experimentação mediúnica? Não seriam as visões de
gnomos, elfos, goblins, demônios, gigantes, animais ou feras míticas, senão
modificações naturais que podem sofrer o perispírito? Não seriam as narrativas
mediúnicas que atestam os estigmas e as mutilações perispirituais um caso
flagrante de interpretação literal do que, de fato, é aparente? Não seria a
falta de explicação dos autores espirituais para isto um inequívoco sinal de
ignorância, ou canalhice com o fito de confundir? O perispírito, tomando a
forma e a dimensão que bem entende o Espírito, não carece do auxílio de
terceiros para realizar o que naturalmente ocorre, sendo de rir-se quem leva em
conta narrativas que descrevem processos fluídicos complexos no sentido de
miniaturizar o ser para a reencarnação. Quão maior for o conhecimento do
perispírito como prescrito pela Doutrina dos Espíritos, maiores subsídios terá
o estudioso para chegar a uma conclusão por seus próprios meios. Ao estudo,
portanto.
__
1_ver questão 451 de O Livro
dos Espíritos