A ideia inicial que moveu-nos a sustentar este blog era divulgar o Espiritismo em ortodoxia; dar a público matérias de interesse que se pautassem pela fidelidade aos princípios doutrinários, artigos que explorassem questões intrínsecas a este, sem furtar-nos a analisar as deformidades e anomalias ocorridas diante do entendimento e prática desta em solo pátrio, ou do imaginado como sendo o Espiritismo, em teoria e prática. O caráter combativo foi o esteio em muitos ensaios e opúsculos, na busca de expor as aberrações e bizarrices daquilo que se pratica sobre o brado de Espiritismo – mas, afinal, qual o interesse por isto? Até que ponto a verdade é um valor em si mesma? E quem estaria interessado em obtê-la? Fato é que na prática, seja em centros espíritas, seja em comunidades das redes sociais que buscam aglomerar os interessados e iniciados, poucos indivíduos realmente têm ímpeto para algo mais que uma simples fórmula religiosa para adotar como sua.
Afeito religião, o Espiritismo perde-se por completo, torna-se um não-Espiritismo – forma um clube de associados anódicos, que diferem pouco de voluntários de uma ONG destinada a distribuir cestas básicas, víveres e mantimentos aos necessitados da sociedade. Certo que é uma contribuição de real importância, mas não leva o alimento da alma, não restaura o Espírito como centro da existência, em lugar da Matéria, cerne da mensagem de Jesus de Nazaré que o Espiritismo vem restabelecer. E mesmo dentre as ações sociais que impõem algo de natureza intelectual, frequentemente se resumem a palestras que não tangenciam os princípios da Doutrina dos Espíritos, ou são somente exposições equivocadas e inexpressivas, extraídas da mais trivial literatura mediúnica, de cunho moral, ou moralizante. Sem a explicação acessória espírita, que diferencia essa explanação sumária da matéria moral daquela ouvida no sermão da igreja, no culto do templo? qual a serventia, então do Espiritismo neste cenário?
Perseverar com a publicação de matérias aqui apenas resultaria nos mesmos fins até então atingidos – e embora verdadeiro em seu propósito de exortar a doutrina espírita, bom pela satisfação pessoal trazida tanto quanto pelo estímulo constante ao estudo, não temos encontrado senão poucas razões que o façam útil. Ao menos não tão útil para qualquer interessado apanhar da obra de Allan Kardec e tão somente lê-la e estudá-la. Resulta, portanto, de abandonar o presente blog à sorte da Internet, o testemunho enfim mudo de um período de nossa vida em que buscamos divulgar a grande crise de fé que esta filosofia se nos descortina. Sem mais, agradecemos aos poucos leitores que vez por outra surgiram. Abraços a todos.