sábado, 11 de julho de 2020

Ainda Sobre Jesus


1.
Ademais toda comoção quase nula causada pela existência mesma do presente blog, e de todo o seu conteúdo, o derradeiro artigo aqui publicado suscitou domésticas palestras acerca de um pormenor, no tocante a aparência que Jesus de Nazaré houvera de ter envergado quando se sua passagem entre as gentes da Palestina do século I. A descrição original atribuída ao historiador judaico-romano Flávio Josefo, e recuperada pelo polímata Robert Eisler é espantosa, principalmente pela completa disparidade que forçosamente leva ao leitor a comparação com toda a imagética cristã que retrata a figura de Jesus - homem caucasiano, de olhos e cabelos claros, alto e trajado de branco. A fim de ilustrar o artigo anterior, foram apanhadas parte das imagens confeccionadas por Carl Heinrich Bloch, artista dinamarquês do século XIX, que entre 1865 e 1879 executara 23 pinturas com cenas da vida de Jesus sob encomenda do Palácio de Frederiksborg; os originais ainda se encontram no castelo, que deixou de ser a residência da família real dinamarquesa para tornar-se o Museu de História Nacional da Dinamarca. Tais imagens foram, e ainda são largamente utilizadas em material promocional da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os Mórmons. A reafirmar este padrão europeu atribuído a Jesus, há ainda a tal carta de Públio Lentulus, suposto político romano e, ainda, a quem se diz haver sido em existência passado o mentor de Chico Xavier, o Espírito obsessor Emmanuel - que se faça a justiça, o próprio Espírito reivindicou tal identidade para si, contando com o crédito extenso de grande parte do ilegítimo movimento espírita nacional. Entre esta última, considerada uma falsificação medieval, e as imagens confeccionadas pelos pintores ao longo dos séculos não há distinções visíveis, senão similaridades - para ressaltar a divergência entre esta e aquela atribuída a Flávio Josefo, vale enxertar a descrição do historiador à apreciação:

Naquela época, também, apareceu um certo homem (de mágico poder), se é permitido chamá-lo de homem, a quem certos gregos chamam de filho de Deus, mas seus discípulos o chamam de verdadeiro profeta, capaz de ressuscitar os mortos e curar todas as doenças. Sua natureza e sua forma eram humanas (homem de aparência simples, idade madura, baixa estatura, três côvados de altura, corcunda, de rosto comprido, nariz comprido e sobrancelhas unidas para espanto de quem o veja, com cabelo escasso, mas separados no meio da cabeça à maneira dos nazarenos, e com barba subdesenvolvida).

Em verdade, para o Espiritismo pouco causa a aparência que se deseja atribuir a Jesus - mas certo critério de bom senso se espera haver do estudioso, que não recusa o proveito que toda espécie de saber lhe acresce ao progresso próprio, para concluir que há qualquer cousa de aberrante na imagem classicamente imputada a Jesus. Dado conhecimento, mesmo que superficial, da história das regiões do mundo, dos povos que as habitam e habitaram, das correntes migratórias ao longo dos séculos e milênios pode resultar em concordar que um Jesus caucasiano seria estranho - e mais estranho que tal aparência em dissonância a seus pares não fora notada nos Evangelhos, menos ainda por Josefo que é, sob concordância unânime dos acadêmicos, oficialmente a mais antiga descrição do aspecto de Jesus. Não, para o Espiritismo a imagem não é nada; mas para o homem encarnado, é natural ter suas ideias representadas por algo concreto, e este ponto focal ele o deseja agradável segundo seus próprios padrões estéticos - é o que explica a prevalência da imagem mais conhecida da Jesus, e do fato de ela se refletir nos relatos, absolutamente ficcionais, das obras examinadas no artigo anterior; e razão pela qual nos utilizamos das pinturas de Carl Heinrich Bloch, entre outros, para o estampar.

Não é o desejo aqui compor um ensaio pormenorizado de tudo quanto diga respeito a este aspecto da vida de Jesus; ainda menos que isto deva importar a maneira como presente nas obras citadas, para o espírita - não deve, e não demanda reiterar, são visões particulares de seus compositores, de seus autores, que nenhum compromisso doutrinário manifestaram em seus escritos, não fazendo mais que compor sentenças de teor lírico a fim de levar os leitores ao pranto. No entanto, à título de trazer informes, conhecimentos e saber acerca desta questão, igualmente objeto de estudo do mundo acadêmico, escusamo-nos a solicitar a licença de devotar algumas laudas a esta, no presente espaço, num exercício escapista de compulsar a manifestação da vida humana em certas expressões no planeta, a fim de alcançar alguma conclusão acerca do tema.

2.
Antes, no entanto, é preciso compor um breviário do que é conhecimento comum entre estudiosos acerca da aparência que Jesus de Nazaré envergara - e, antes que cause estranhamento aos devotos da primeira hora, o que a Ciência busca é o Jesus histórico, o homem que de fato pisou o solo poeirento da Palestina do século I; questões quanto a atribuições metafísicas relativas a natureza de Jesus são mote da religião, artigo de fé e objeto de culto. A historiografia e as disciplinas com que guarda relações tem debruçado esforços contínuos para alcançar a realidade das narrativas bíblicas, e muitas de suas descobertas e conclusões interessam para dar a devida medida humana a Jesus, nos distanciando da versão culturalmente construída dele, e largamente aceita pela irreflexão própria do senso comum.

Jesus é, como notado unanimemente pelos fragmentos colhidos dos livros que foram analisados em artigo anterior, representado com uma aparência caucasiana, alto, portando madeixas longas e claras tal qual a barba, olhos cristalinos, e uma túnica alva. Seria demasiada leviandade dar crédito a que, factualmente, esse Jesus de feições europeias existira, e maior imprudência ainda divulgá-lo como expressão da verdade. Os autores das obras em questão não apenas esforçaram-se na prática de tal desajuízo como embusteiros alguns, ingênuos outros, como todos, partindo de uma visão de fé, suficientemente maleável e fluída para abarcar a poesia e lirismo necessária a dobrar as objeções mais engessadas, trabalharam na contramão da fé raciocinada prescrita pelo Espiritismo. Ao fazê-lo se expuseram, e expuseram os reais compromissos que os levaram a partir de premissas conhecidas e reconhecidas como historicamente falsas - personalismo, fama, influência, acumulo de fortunas, etc.; ou seja, nenhum objetivo nobre os norteou. Tão prejudicial quanto foram os leitores que deram seu total crédito a tais narrativas e asserções, trabalhando como divulgadores secundários desses autores e suas obras, maculando ainda mais a imagem da Doutrina dos Espíritos, fornecendo razão aos detratores pontuais, e o desdouro a generalidade das gentes.

A figura de Jesus longe está desta persona idealizada - o berço de tal exemplar deificado de homem europeu remonta ao paganismo ocidental, cujos deuses de seus panteões eram representados com longos e volumosos cabelos e barbas. Tal imagem veio a ser adotada como aquela atribuída, por extensão, aos filósofos, votados a arte do pensar, pouco se ocupando com questões de aparência. No medievo, a representação de Jesus adotaria similaridades com os monarcas de então, cuja figura de poder indicava portar cabelos e barbas longas - antes de tais fontes diretas de influências incidirem na imagem pensada para Jesus, a arte paleocristã, contudo, o representava como um judeu palestino do período, ou seja, com cabelos e barba curtos. As imagens das moedas da época, das poucas que traziam a representação de um judeu ofertavam tal mesma análoga estampa. E não poderia ser diverso, estando Jesus inserido no mundo romano, onde o estilo adotado repudiava como desonra para um homem portar cabelos crescidos, o que Paulo expressa claramente em sua primeira carta aos Coríntios. A única exceção cabível para o comprimento dos cabelos e barba de Jesus seria se houvera feito um voto nazirista, que compreendia entre outras regras mais não consumir vinho - ele é visto o fazendo, por exemplo, no Evangelho de Mateus, o que leva concluir que não consumara tal voto e que, portanto, tinha cabelos e barba curtos.

Os registros fósseis do período indicam que os judeus palestinos guardam correspondência aos judeus iraquianos atuais, ou seja, tinham cabelos e olhos castanho escuros ou pretos, pele morena, de subtipo oliva, guiando-nos a visão de um Jesus tipicamente oriental, de porte árabe. Tais fósseis ainda vem revelar que a altura média de um homem então era de cerca de 1,60cm., não sendo Jesus, portanto, muito mais alto do que isto. Quanto ao que vestia, o traje típico era uma túnica chamada chiton, constituída de uma camada externa de tecido mais fino chamada sindon, feita de suas peças, uma frontal e outra traseira, ambas atadas nos ombros e ornadas por listras até a bainha. A túnica interna poderia ser de uma só peça, que ia até os joelhos apenas, pois túnicas longas eram próprias das mulheres ou, usadas ocasionalmente por abastados e socialmente bem posicionados. Por sobre as túnicas se usava um manto chamado Himation, confeccionado usualmente em lã. Suas cores certamente estavam longe do púrpura e dos mais finos tons de azul e vermelho, pigmentações caras reservadas apenas aos endinheirados - na transfiguração, os Evangelhos registraram que as roupas de Jesus adotaram um tom branco brilhante, o que faz supor que usualmente suas roupas não eram assim, mas provavelmente desprovidas de tingimento, de tonalidades pasteis e sujas pelas condições da aridez da região. As sandálias da época eram de uma simplicidade estoica, sendo compostas de dois seguimentos de couro mais grossos para a sola, com tiras finas a fixá-la nos pés, uma variação do que o brasileiro encontra nos tradicionais chinelos Havaianas, certamente mais rústicas e, creia-se, mas frágeis. E isto é tudo o que a historiografia pode conjecturar acerca de Jesus, sendo-lhe impossível especular sem base quanto as particularidades de sua expressão física e facial - até que se encontrem novos documentos que venham trazer dados novos, a descrição de Flávio Josefo, por mais chocante pareça, permanece o mais próximo de uma descrição fiel de Jesus; e é a este que em pormenores analisaremos a seguir.

3.
Dispensado o primeiro seguimento da descrição de Josefo, o foco no aspecto físico de Jesus se encontra nas sentenças posteriores, onde afirma que sua aparência era simples, portanto, condizente com a pobreza e humildade a ele atribuídos; pontua que sua idade era madura, e aqui se poderia partir para uma polêmica igualmente fértil acerca dos anos em que iniciara sua jornada pública e aquele em que encontrou seu fim - há estudiosos que afirmam que Jesus morreu aos 36 anos, outros o levam até os 40, de tal conta que esta maturidade presente no texto pode ser bastante relativa, indicando um homem em idade adulta plena, diversamente de um jovem adulto de vinte e poucos anos. Ou sua face e compleição deveriam estampar uma idade inconciliável com a realidade de seus anos, reflexo da dureza inclemente da vida àquele tempo, manifesta sob um sol onipresente e desgastante. Um dado nos Evangelhos leva a tal conclusão - no livro de João, capítulo 8, versículos 56 a 59 encontramos o seguinte:

Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se. Disseram-lhe, pois os judeus: Ainda não tens cinquenta anos, e viste Abraão? Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou. Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo, passando pelo meio deles, e assim se retirou.

A surpresa de seus pares indica que imaginavam-no mais velho, um possível denunciador de sua aparência degradada - Jesus provavelmente era precocemente envelhecido. A seguir, o historiador nota que Jesus tivera uma baixa estatura, dando inclusive a medida de três côvados - o côvado é uma unidade de medida milenar que variou ao longo da História e do povo a que serviu-se dela; ao tempo da composição de tais linhas por Flávio Josefo, o côvado egípcio era o de uso comum, e ele representava cerca de 50cm., dando a Jesus 1,50cm. de altura, o que explicaria o fato de ser este um aspecto de sua figura a se registrar, já que os homens de seu tempo eram cerca de 10cm. mais altos - Jesus era, portanto, baixinho. Parte de sua altura talvez se devesse a esta condição notada pelo historiador, segundo a qual Jesus padecia de hipercifose torácica, a corcunda - é possível que seja esta peculiaridade efeito da adoção de uma postura de trabalho, a qual tenha sido submetido desde a infância, possivelmente associada a carpintaria como profissão indicada de seu pai; mas aqui, seria preciso uma pesquisa aprofundada acerca das condições de trabalho de um carpinteiro àquele tempo e naquela região. Por outro lado, é possível que, baixinho, também fosse magro em demasia, tendo uma curvatura de notar-se na coluna, sendo apontado como corcunda sem que de fato apresentasse um quadro grave. A alusão feita ao rosto e nariz compridos pode indicá-lo como homem do oriente próximo, um judeu comum, ou mesmo deixar patente que, dentre estes, Jesus portava uma face e nariz especialmente longos - mesmo dentre uma extensa gama de variações estéticas presente nos povos orientais, particularmente dos originários do Oriente Médio, há rostos e narizes mais belos que outros, de modo que se torna impossível precisar tal valor atribuído a Jesus. Poderia ele ter um nariz invulgarmente grande, adunco, destacando-se numa face de queixo longo e proeminente, ou nada disso. Mas, encimando este nariz judeu, havia uma sobrancelha unida, o que vulgarmente se conhece por monocelha. Da mesma forma, torna-se especulação fantasiosa afirmar que era esta sobrancelha longa ou curta, grossa ou fina, bem desenhada ou desgrenhada - mas, é forçoso concluir, pela paridade com os povos do oriente, que o portador de uma monocelha não há teria discretamente, e sendo homem Jesus talvez a tivesse em bom volume, a tal ponto que fez-se predicado digno de considerar, e espanto de quem o via.


Mas que não nos enganemos quanto aos padrões de beleza aceitáveis àquele tempo e região do mundo, pois far-se-ia injusta comparação ao que hoje é tido por belo; no Tardjiquistão, por exemplo, a monocelha destacada é sinal de beleza... em mulheres. Obviamente, nem todas nascem com tal abundância nos sobrolhos, ficando a cargo das peripécias da maquiagem unir o que nasceu separado. Há, inclusive, uma modelo grega, Sophia Hadjipanteli, profissionalmente evidente por conta de sua rara beleza e de suas enormes e unidas sobrancelhas. Mas nenhum pelo facial há de causar maior pasmo que aqueles que enfeitaram as faces das mulheres do harém do Xá da Pérsia Nácer Aldim Xá Cajar, que governou o país (atual Irã) entre 1848 e 1896. Além dos sobrolhos unidos, suas esposas cultivavam o buço, e desconheciam a depilação ao que indicam suas pernas repletas de longos fios, como registradas pelos retratos que ele mesmo colheu de suas amadas, facilmente encontráveis na internet. Era este o padrão de beleza, ao menos para o Xá da Pérsia; é um desafio considerar o valor estético de tal cultura sob o padrão europeu dominante no ocidente contemporâneo.


Jesus, outrossim, segundo a descrição, padecia de calvície, ou alopecia androgenética, condição absolutamente comum ao gênero masculino (cerca de 50% dos homens são acometidos de calvície), de causas ordinariamente hereditárias, manifestando-se costumeiramente entre os 17 e os 23 anos de idade, mas podendo ter seu início aos 25 anos; entretanto, segundo o texto, não fora completamente desprovido de cabelos, dando a crer que estivesse em vias de tornar-se careca, como ocorre quando certos homens atingem a meia-idade. Bem, havia fios suficientes para que os fendesse ao meio 'à maneira dos nazarenos'; parte das causas a que se atribuí a calvície é o excesso de oleosidade capilar, de modo que o volume deste parco cabelo que Jesus ostentava está na razão da imaginação de cada um. Ao fim e ao cabo, mas não menos importante, Jesus teria uma barba subdesenvolvida; possivelmente curta, ou no pior cenário, repleta de falhas. Toda esta descrição elaborada por Josefo compõe, ao que parece, a imagem de um homem destituído de atributos físico agradáveis aos olhos, bastante feio se o leitor levar em conta a padrão adotado consensualmente para Jesus. A considerar o livro de Isaías no Velho Testamento, crendo haver tido a presciência do aspecto físico de Jesus, ele assim profetizou no capítulo 53, versículos 1 e 2:

Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.

Acaso de fato esta passagem bíblica sublinha Jesus como alguém sem beleza física, dando crédito a descrição de Flávio Josefo, é interessante pensar como o Espiritismo, milênios mais tarde cravaria que o corpo físico não é nada, que o aspecto das formas é transitório e desimportante frente ao Espírito - isto empresta a Jesus uma grandeza maior, tendo ele exemplificado em si um manifesto contra o materialismo, desafiando o preconceito social, e mesmo as ressalvas estéticas de seu povo. É de se imaginar que sua atitude tenha, sendo ele miserável, feio e sujo, apontando para os bem nascidos doutores da lei e lhes demonstrando um conhecimento imensurável, a ponto de calá-los e, ainda, vindo ilustrar suas palavras em atos considerados miraculosos, que se voltassem com toda fúria contra ele, levando-o finalmente a morte. Sua presença era já um tapa às faces orgulhosas dos fariseus e saduceus, um desafiante impávido cuja conduta e atitudes não eram condizentes ao que sua aparência e origem humilde faria esperar-se dele. Uma pesquisa superficial dos aspectos físicos dos povos do oriente próximo, dos padrões estéticos que valorizaram em suas culturas ao longo dos milênios, certamente, não daria a Jesus e seus pares a consideração que os paradigmas atuais pedem no ocidente. Ao contrário: coerente é vislumbrar que, transportados para os dias atuais, Jesus e seus discípulos mais próximos parecer-se-iam a um bando suspeito de moradores de rua, pedintes sem pouso ou destino, deambulando pelas ruas a cata da próxima refeição. E aqui os textos bíblicos podem ainda trazer alguma luz - no Evangelho de João, capítulo 18, versículos 4 a 8 encontra-se o seguinte:

Sabendo, pois, Jesus todas as coisas que sobre ele haviam de vir, adiantou-se, e disse-lhes: A quem buscais? Responderam-lhe: A Jesus Nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, estava com eles. Quando, pois, lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra. Tornou-lhes, pois, a perguntar. A quem buscais? E eles disseram: A Jesus Nazareno. Jesus respondeu: Já vos disse que sou eu; se, pois, me buscais a mim, deixar ir estes;

A expressão cair por terra não tem o significado literal de que seus captores, entre judeus e oficias romanos, ajoelharam-se ou caíram ao solo diante da presença de Jesus - esta expressão significa, aqui, que tal agrupamento admirou-se ante a figura de Jesus, a tal ponto de não haver lhe dado o crédito e ter ele de identificar-se duas vezes. Jesus, portanto, encontrava-se distante de corresponder às histórias que dele se devia contar o povo - não é de duvidar que ia a mente de seus captores que as ordens que cumpriam estariam equivocadas, pois sobre tal figura qualquer acusação parecer-lhes-ia descabida. Jesus devia compor uma feição insignificante, reles, desimportante, incapaz de chamar a atenção exclusivamente por seus atributos físicos, muitíssimo distante do alto homem de túnica branca, cabelos claros esvoaçantes e olhos translúcidos em tons de azul. Não foi senão com grande surpresa que a reconstrução facial empreendida pelo artista forense Richard Neave, executada já há alguns anos veio causar comoção entre os crentes, pois está mais em paridade ao que realmente se supõe fora Jesus numa contrastante comparação as suas usuais representações. Outro especialista que recentemente debruçou-se a dar contributos a questão foi a historiadora inglesa Joan Taylor, que lançou a obra What Did Jesus Look Like? em 2018, onde ela própria executara um esboço de como teria sido Jesus, corroborando o trabalho de Neave e outros estudiosos que tem revelado o passado, fazendo emergir o Jesus histórico - não é de abalar, por efeito, que frente aos artigos de fé e a descabida crença religiosa que tudo idealiza sem considerar a razão, o verdadeiro Jesus permaneça revelado em palavras e atos, o que deve realmente importar acerca dele. Quanto as muitas obras de arte que eventualmente surgem junto ao ilegítimo movimento espírita brasileiro, tais como supostas representações reais da face de Jesus, ou de sua mãe, não são mais que a judiciosa expressão do acúmulo secular de crenças, influências e superstições culturalmente aderidas a Jesus, a fim de vir representá-lo segundo os anseios imagéticos ideais de seus autores. Ao fim e ao cabo, são tais obras a manifestação dos Espíritos, que refletem a cristandade em sua generalidade; esperar que tudo o que comuniquem esteja de par e passo a verdade é o que constitui a grande chaga que impede a real prática do Espiritismo em território nacional. E sem a correta prática, efeito do pleno entendimento, Jesus permanece objeto de fé, jamais da razão - por isso as obras compulsadas no anterior artigo não serem espíritas, expressões ficcionais das ideias de seus autores.


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