domingo, 12 de abril de 2020

Velhos Livros, Novas Leituras - "As Colônias Espirituais e a Codificação"


Parafraseando um esquecido gênio brasileiro, a verdade é impopular - segue-se que os defensores da erraticidade espírita, aquela mesma revelada pelos Espíritos da Codificação a Allan Kardec são, diuturnamente, mais e mais relegados ao ostracismo que a verdade lhes impõe. Colônias Espirituais, Umbral e cousas do mesmo gênero não existem; assim o sabia o Codificador, assim sabiam aqueles que leram e estudaram as Obras Básicas e lhe foram coetâneos. E assim sabem aqueles poucos que, insulados, deram-se a debruçar sincera diligência a desvelar uma Doutrina que clama por seu lugar ao Sol, constrangida a um canto escuro da História por seu abominável parasita teratológico, que atende pelo nome de movimento espírita brasileiro. Paulo Neto é um, dentre milhares de diminutos organismos que constituem o microbioma de tal monstruosidade, deambulando sobre sua derme na feliz marcha dos ignorantes. Obviamente, a qualquer abalo que atrapalhe o caminho, muitos hão de se insurgir contrários, forçando-se ao embate, e a defesa da criatura da qual vivem. Assim, ante um alarido qualquer que cogitou pela inexistência das Colônias Espirituais, fez surgir a presente obra, de ponta a ponta um completo equívoco.

Para defender a realidade das Colônias Espirituais, qualquer autor precisará de bases sólidas e, num livro que tem a Codificação em seu título, era esperado que Allan Kardec fosse a grande estrela a ser conclamada a demonstrar, inescapavelmente, que tais locais de circunscrição de Espíritos são uma realidade axiomática. No entanto, como isto não ocorre, por que nas Obras Básicas nada há que possa embasar uma mentira de tal monta, o autor precisa apanhar do prestígio e obra de outros autores que, a exemplo dele, propugnam dessa ignomínia. O baluarte a quem apela não é senão outra que Yvonne A. Pereira, figura incensada por sua mediunidade - Devassando o Invisível é a obra escolhida; desde já se saiba que em seu conteúdo é citado cinco vezes o Espírito André Luiz, adjetivado por termos meritórios quais 'eminente' e 'ilustre', um proceder que, para efeito de fonte isenta e segura, o autor talvez devesse ter se esmerado mais em buscar outra. Além disso, a autora carioca falecida em 1984 teceu curiosa consideração acerca da mediunidade:

Ora, sendo a mediunidade, em geral, ao que se observa, uma sensação ou uma percepção, participante de determinadas funções da consciência; e sendo estas entendidas como potências da alma, que traduzem a sua individualidade, acreditamos que todas as criaturas sejam dotadas dessa faculdade, em grau maior ou menor, dependendo de um estado mais ou menos acentuado de desenvolvimento, ou experimentação. Todavia, parece-nos que, no estado de desencarnação ou de desprendimento espiritual, esse atributo da nossa individualidade anímica emerge espontaneamente, visto que, no que a nós própria respeita, certos acontecimentos, desenrolados durante aquele segundo estado, parecem confirmar nossa impressão.

Mediunidade é comunicabilidade, um atributo do homem como a fala, e justamente como esta pois porque se destina a comunicar inteligivelmente uma ideia, uma mensagem, enfim, algo útil, bom e, mais que isto, verdadeiro - não é uma sensação, como um comichão ou prurido, menos ainda uma percepção, dado que o vocábulo tem um sem número de significações, de tal conta que, podendo tudo significar, nada expressa. O uso de tal vocábulo aqui, em particular, ecoa outras tantas palavras que são usadas correntemente pelos espíritas e que, analogamente, são desprovidas da capacidade de representar corretamente aquilo a que indicam - um bom exemplo é a palavra energia, amiúde usada para referir-se ao fluido, mas não sabendo senão superficialmente, ou nada sabendo acerca do fluido, o espírita tem de expressar-se, ainda que erroneamente, de algum modo. Fluido é matéria, e energia um atributo desta - mas há energia no fluido? O Espiritismo não o indica, e quem em nome dele assim o afirmar positivamente precisará prová-lo. Outro exemplo de emprego de terminologia errada, presente na obra, diz respeito a constante referência a mediunidade de incorporação, ou apenas incorporação, o que não existe e aponta, em realidade, para a psicofonia; além, é claro do infame desdobramento, ou mediunidade de desdobramento, que não define cousa alguma, embora se refira a mediunidade sonambúlica.

A leitura deste enxerto de Devassando o Invisível parece indicar que, para a autora, a mediunidade é também atributo do Espírito, configurando novo erro. Aliás, afirma, outrossim, que a mediunidade é desconhecida dos estudiosos do Espiritismo, ao que apenas se constata por tais trechos que ela não deixara nada a desejar a estes, e embora enaltecida e vangloriada, Yvonne A. Pereira não vai muito além do que se vê de parte dos médiuns que são mote de culto da choldra espírita. Ainda que pela extensão venhamos a pecar, outra passagem interessa para um exame mais atento - acaso firme-se em real dificuldade à autora definir a mediunidade, ou crê-la presente no Espirito, vejamos como se sai ao lidar com outro fundamento do Espiritismo, o livre-arbítrio. Para tanto, e afim de vir encerrar tal obra, ela deseja abordar assunto que seja objeto das preocupações de companheiros de ideal espírita; destarte, resulta após aguardar que lhe venha algo por inspiração, em considerar o seguinte tema:

Das teses aventadas, uma nos parecera a mais sedutora: procurar saber, de nossos mentores espirituais, a razão pela qual certos Espíritos desencarnados se supõem ainda vivos, 'qual o mecanismo que os leva a se considerarem homens carnais' quando, em verdade, muitas vezes, há séculos que estão separados da condição humana.

Não será demasiado vir lembrar o que responderam a Allan Kardec os Espíritos em O Livro dos Médiuns acerca de seu papel como guias dos homens em suas descobertas - “Que mérito teria ele (o homem), se não lhe fosse preciso mais do que interrogar os Espíritos para tudo saber? A esse preço, qualquer imbecil poderia tornar-se sábio.” - ou ainda, ao risco a que se expôs por assumir tal atitude, como que ignorando que há sempre uma multidão de Espíritos prontos a tomar a palavra, sob qualquer pretexto; tais prevenções, todavia, não a impediram de, destemidamente partir junto de um suposto enviado do Espírito do médico Adolpho Bezerra de Menezes, bastião moral febiano. Ladeada por este suposto emissário, adentra pocilga onde seus ocupantes, maltrapilhos Espíritos divertem-se com álcool, tabaco, conversas infrutíferas e muita cantoria. Informa seu cicerone que tais sujeitos intervinham negativamente na vida dos encarnados. Questiona Yvonne se não haveria meios 'que os impeçam de (cometer) tais monstruosidades', ao que o Espírito responde:

(...) será oportuno considerar que, da mesma forma, monstruosidade será a sociedade deixar um órfão, ou um filho de pais miseráveis ou delinquentes, criar-se ao abandono, pelas ruas... E a sociedade o faz agora, e o fez com estes mesmos que está vendo aqui... Monstruosidade será também omitir providência humanitária para que o jovem abandonado, ou o pobre, se instrua, eduque e habilite de modo a furtar-se à humilhação da ignorância, prendendo-se na escola do dever e da honestidade... No entanto, estes que aqui vemos foram banidos pela sociedade, que lhe não facilitou escola, nem educação, nem exemplos bons, senão a dureza de coração com que os tratou... Não se instruíram porque não tiveram meios de remunerar professores, e as escolas públicas nem sempre são acessíveis aos deserdados, como estes foram... Não puderam educar-se porque o lar é que modela os caracteres, e eles, desde a infância, viveram perambulando pelas ruas... Tal como os vemos, são ainda frutos da sociedade... Sua impiedade foi libada na impiedade que receberam... Tornaram-se criminosos inveterados, na Terra e no Além, porque foram vítimas do crime de egoísmo da sociedade... Portanto, pertencem à sociedade terrena, esta é afim com eles e eles vivem nos ambientes que lhes convêm...

Seguintemente, o Espírito afirma caber ao encarnado, por vontade e alvitre, contrapor as influências de Espíritos de tal natureza - mas esta inferência após um discurso tão afinado aos preceitos da sociologia materialista, que propõe impor a culpa do criminoso às suas vítimas, é de indagar se não caberia a mesma lógica para com estes Espíritos, tornados obsessores, quando de seu contato com os encarnados. Ou seja, que culpa há por parte da sociedade, uma vez que ela não anula o livre-arbítrio do ser? Não há tanta miséria que sufoque absolutamente todas as alternativas do sujeito encarnado por manter-se, senão ativo nas lides benfazejas da bonomia, ao menos afastado do delito e do vício. O proceder adotado por este Espírito a acompanhar Yvonne A. Pereira é um denunciador infalível do alcance de seus saberes, de seu progresso - deve-se considerar sua fala? Não parece haver a intenção de instar culpa ao leitor? Não seria um procedimento mais correto tratar da questão por outros meios?

No mais, o que importa para Paulo Neto está apartado do mourejo com que Yvonne A. Pereira lida com o livre-arbítrio, pois que a médium, igual defensora da existência das Colônias Espirituais, faz referência a obra de outros tantos autores a fim de, a seu turno, também dar base a esta descabida doutrina - assim, além de Ernesto Bozzano e George Vale Owen, Léon Denis é arrolado para esta reunião de insanos. Ainda não foi a vez de Allan Kardec integrar as festividades. Um Paulo Neto entusiasmado vem concluir:

Portanto, com esses três autores citados, a médium Yvonne A. Pereira conseguiu nos convencer da realidade das colônias espirituais, ou construções diversas no mundo espiritual. Sim, ela com as provas apresentadas, venceu o nosso 'achismo'.

Notoriamente, a figura de Léon Denis é a que salta aos olhos do autor, que sentencia:

O que achamos fantástico é a menção que Yvonne faz de personalidades renomadas terem comungado com essa ideia; entre elas, e de um modo especial, cita nada menos que Léon Denis (1846-1927), que sabemos ter sido o continuador de Kardec, após o seu desencarne.

Mais adiante, prossegue:

Apresentar Léon Denis como defensor da causa foi algo como que um tiro certeiro no alvo, porquanto não há o que se falar de serem antidoutrinárias as colocações dele e, muito menos, que tenha dito absurdos, produto de sua imaginação.

Lamentavelmente para Paulo Neto, o druida de Lorena embora respeitável, não avança intacto ao escrutínio de um análise mais atenta. Em Depois da Morte, os leitores hão de encontrar o trecho seguinte:

É perispírito que garante a manutenção da estrutura humana e dos traços fisionômicos, e isto em todas as épocas da vida, desde o nascimento até a morte. Exerce, assim, a ação de uma forma, de um molde contrátil e expansível sobre o qual as moléculas vão incorporar-se. Esse corpo fluídico não é, entretanto, imutável; depura-se e enobrece-se com a alma; segue-a através das suas inumeráveis encarnações; com ela sobe os degraus da escada hierárquica, torna-se cada vez mais diáfano e brilhante para, em algum dia, resplandecer com essa luz radiante de que falam as Bíblias (antigas) e os testemunhos da História a respeito de certas aparições. É no cérebro desse corpo espiritual que os conhecimentos se armazenam e se imprimem em linhas fosforescentes, e é sobre essas linhas que, na reencarnação, se modela e forma o cérebro da criança.

Léon Denis parece omitir um fato conhecido e reconhecido de todo estudioso do Espiritismo acerca da natureza do perispírito - ele afirma ser este envoltório fluídico um apenas, acompanhando o Espírito em suas múltiplas vidas; verdade, mas apenas em parte. Transladado a outro mundo, este corpo fluídico é abandonado como a uma veste, e tão rápido quanto se pode supor a velocidade do pensamento, visto que é constituído da matéria comum aos elementos do orbe onde se encontra o Espírito. Faltou aqui um cadinho mais de capricho na elaboração da questão por parte de Denis - a ideia que evoca acerca dos contornos diáfanos e radiantes que o perispírito assume no decurso do progresso do Espirito, assim apresentada, pede explicações acessórias que aí não se encontram. Aspecto de fato indefensável é sua afirmação de haver um cérebro no perispírito - um pioneirismo que se refletiria décadas após, e de modo mais ostensivo na literatura do Espírito André Luiz. Um infeliz erro, lamentavelmente.

Em O Problema do Ser, do Destino e da Dor, Léon Denis vai contra O Livro dos Espíritos em sua questão de número 298, ao defender a existência das almas gêmeas, ou como denomina Allan Kardec, metades eternas:

Muitas almas, criadas aos pares, são destinadas a evoluírem juntas, unidas para sempre na alegria como na dor. Deram-lhes o nome de almas-irmãs; o seu número é mais considerável do que geralmente se crê; realizam a forma completa, mais perfeita de vida e do sentimento e dão às outras almas o exemplo de um amor fiel, inalterável, profundo.

Sobram lirismo e poesia, falta conhecimento ao venerável e suposto continuador de Allan Kardec. Quanto a suposição que versa Denis como herdeiro e continuador da missão do Codificador, aliás reiterá-se, defendida na obra de Paulo Neto, vale uma judiciosa observação. Para tanto, algumas passagens de Obras Póstumas, em que Allan Kardec solicitando instruções acerca de um possível sucessor, obtém uma longa resposta, da qual se destacam os seguintes trechos:

A ti te incumbe o encargo da concepção, a ele o da execução, pelo que terá de ser homem de energia e de ação. Admira aqui a sabedoria de Deus na escolha de seus mandatários: tu possuis as qualidade que eram necessárias ao trabalho que tens de realizar, porém não possuis as que serão necessárias ao teu sucessor. Tu precisas da calma, da tranquilidade do escritor que amadurece as ideias no silêncio da meditação; ele precisará da força do capitão que comanda um navio segundo as regras da Ciência. Exonerado do trabalho de criação da obra sob cujo peso teu corpo sucumbirá, ele terá mais liberdade para aplicar todas as suas faculdades ao desenvolvimento e à consolidação do edifício.

Fora Léon Denis este homem? A cada um caiba examinar a biografia de tal venerável pioneiro das lides espíritas, ir ao seu encontro por suas obras, seus artigos, tudo quanto legou e acerca dele foi composto para se responder, de fato, tal indagação - de nossa parte, cremos ter sido um dos mais contundentes laboradores do Espiritismo nos anos subsequentes ao decesso de Allan Kardec. Estes seus equívocos, e alguns de seus posicionamentos pessoais, contudo, depõem contra a asserção, mui mitificada, de que fora o continuador mor da obra principiada pelo mestre lionês. Esta mitificação, aliás, é própria de um meio afeito as práticas e condutas mais reprováveis oriundas da religião - a Paulo Neto parece faltar preencher profundas lacunas instrucionais. Contudo, ainda que pareça sincero devoto do espírito de pesquisa na busca da verdade e do conhecimento, ele se mostra a nu quando, por fim se recorda de trazer o Codificador para a celebração de suas teses, infelizmente indo de encontro a outros tantos supostos investigadores da questão, concluindo erroneamente que:

Entendemos que as colônias estão em completa semelhança com as características dos mundos transitórios, referidos nas questões 234 a 236 de O Livro dos Espíritos, que são apenas acampamentos temporários.

Embora conheça as questões referidas, não parece capaz de as compreender - na edição de maio de 1859 da Revista Espírita, em artigo intitulado Mundos Intermediários ou Transitórios, Allan Kardec indaga o Espírito de Santo Agostinho acerca destes orbes, ao que este afirma o já sabido em O Livro dos Espíritos - tais mundos são planetas, e não cidades fluídicas que pairam nas altas camadas atmosféricas destes; são estéreis de vida física; e assim o são porque os Espíritos que os habitam de cousa alguma precisam; não há nenhum atualmente dentre os mundos que constituem o sistema solar ao qual a Terra pertence; mas, a Terra já foi um mundo transitório em seu passado, no período de sua formação; tais mundos subsistem na condição de estações de pouso, e não como locais em que será preciso laborar para se obter uma moradia, como descrito em Nosso Lar, por exemplo. Seria preciso um grande dano cognitivo para se enxergar aí, nas letras do Codificador, as descrições narradas pelo Espírito André Luiz em suas obras, e nas de outros autores surgidos nas décadas subsequentes, encomendadas com o fito de enriquecer seus editores. Contudo, a razão pela qual se aponta os mundos transitórios como sendo as Colônias Espirituais é para as conformar ao princípio doutrinário da pluralidade dos mundos habitados, e não a da erraticidade - é esta uma manobra de prestidigitação literária com o fim claro de manter a tese intacta, mesmo que comprometa a fonte original, qual seja o Espírito André Luiz e suas obras, pois que não se trata de mundos transitórios o que o leitor encontra em Nosso Lar, nem em Cidade no Além de Heigorina Cunha, ou em Violetas na Janela de Vera Lúcia M. De Carvalho. Quando arrolada a erraticidade aí, a tese das Colônias Espirituais esboroa facilmente, e é isto que o autor precisa evitar a todo custo. Uma vez que haja se convencido, por meio da obra de Yvonne A. Pereira acerca da realidade das narrações do Espírito André Luiz e congeneres, Allan Kardec se lhe surge como incomodo penetra, a quem ora lhe tem utilidade, ora é desprezado por suas asserções. Assim Paulo Neto aborda a questão 87 de O Livro dos Espíritos, comprovando que a erraticidade e a tese que defende são inconciliáveis:

A afirmação de não haver região determinada e circunscrita no espaço nada tem a ver com a existência ou não da colônias espirituais, que, atualmente, tantos companheiros atacam; porém, ao que tudo indica, eles estão levando em consideração o conceito, então vigente à época de 'céu' e 'inferno' localizados, ou seja, como locais circunscritos, como sendo um espaço físico delimitado.

Ora, há aqui uma torção argumentativa bastante hábil que, apenas os aderentes da ideia, ou aqueles tão absolutamente inábeis na leitura crítica adotam sem precauções - solicitamos a explicação de por que não tem nada que ver a afirmação da inexistência de regiões circunscritas no espaço, com o fito de conter Espíritos errantes, com a existência de Colônias Espirituais. Uma Colônia Espiritual não é uma cidade, e uma cidade localizada nas altas camadas atmosféricas do planeta, aí inserida num deserto lodoso destinado a Espíritos sofredores, conhecido pelo termo Umbral? Ainda que este, por todas as fontes conhecidas e compulsadas se constitua num deserto que perfaz toda a extensão do globo terrestre, ele encontra seu limite nas Colônias Espirituais, e estas neste, o que claramente os circunscreve, geográfica e espacialmente - as ilustrações esquemáticas encontradas em Cidade no Além, obra coadjuvada por Chico Xavier, houvera apresentado erro nesta divisão do espaço circundante ao planeta em esferas espirituais, porque não as corrigiu o médium mineiro? Porque não foram reprovadas por André Luiz ou Emmanuel? Acaso o tenham feito, não se lhes conhece o réprobo - na máxima segundo a qual o silêncio aprova, questiona-se afinal, em que resume-se o conceito das Colônias Espirituais para Paulo Neto?

Qualquer estudioso considerará, após pesquisar cuidadosamente, que a opinião una de André Luiz, que não deixa de adaptar ideias pregressas, mas que nem longinquamente correspondem as normas apresentadas por Allan Kardec em o Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos, foi ao longo das décadas adaptada ao gosto do mercado que, qual hímen complacente aceitou novas ideias, novas concepções imagéticas mais fantásticas e mais espetaculares, sem se romper e sem deixar de prestar deferência a fonte original. Todavia, o que teima em não se adaptar acaba menosprezado ou deformado - eis o caso das Obras da Codificação, e a atitude do autor de As Colônias Espirituais e a Codificação condiz ipsis litteris a de todos aqueles que o antecederam, erroneamente afirmando que a Doutrina dos Espíritos encontra-se inacabada, procedimento que adota já no terceiro capítulo de sua obra. Este tema o abordamos em artigo aqui publicado em 10 de agosto de 2019, desmantelando ponto por ponto as interpretações personalíssimas, também encontradas no livro em análise das passagens escaladas das Obras Básicas, as quais usa o autor para fazer valer sua visão.

Há uma conveniente miopia na obra de Paulo Neto, que ainda padece de uma pesquisa desleixada - a questão de número 1017 (em algumas traduções é a 1016) de O Livro dos Espíritos sequer surge, possivelmente e, uma vez mais, porque não convém trazê-la ao conhecimento do leitor. Já por si esta implode a tese das Colônias Espirituais, como fizemos notar em artigos anteriores. Nada temos contrário a quem quer que escolha aderir as ideias que mais se conjuguem a seus pendores naturais e particulares, ainda menos a quem opte por escapar ao trabalho de voluntariamente aumentar o volume do próprio conhecimento, mas por nenhuma paga ou sob quaisquer escusas pode-se permitir que a figura de Allan Kardec, e a Codificação espírita sejam evocados a dar distinção a ideias e conceitos oriundos de Espíritos pseudo-sábios. Menos ainda se estes venham desfigurar qualquer dos fundamentos componentes da Doutrina dos Espíritos - a erraticidade é um deles, tão importante quanto cada um dos demais para a compreensão coerente do Espiritismo. Que se deseje conjurar Yvonne A. Pereira, Léon Denis, George Vale Owen, Enerto Bozzano, André Luiz, Emmanuel ou qualquer outra figura enaltecida pelas gentes que se creem espíritas, é esta da responsabilidade de cada um, autor de uma obra qual esta ou não, para defender que exista o que quer que seja para além dos limites da morte física. Chamar a isto de Espiritismo, contudo, é algo que nenhum espírita sério, estudioso, consciente e crítico há de permitir se faça - não há o que censurar na crença das Colônias Espirituais, desde que fique claro não se tratar de Espiritismo. Ostentando tal título, a obra de Paulo Neto é um crime de lesa-cultura. E todo aquele que um dia sequer considerou seriamente a tese das Colônias Espirituais e similares, para depois, aprofundando estudos nas Obras Básicas dar-se consciente do engodo a que fora exposto, compreende perfeitamente os sentimentos que resultam disto. Examinem tudo, absolutamente tudo, é o que conclamamos aos que de fato desejam conhecer o Espiritismo.

841. Para respeitar a liberdade de consciência, dever-se-á deixar que se propaguem doutrinas perniciosas, ou poder-se-á, sem atentar contra aquela liberdade, procurar trazer ao caminho da verdade os que se transviaram obedecendo a falsos princípios?
Certamente que podeis e até deveis; mas, ensinai, a exemplo de Jesus, servindo-vos da brandura e da persuasão e não da força, o que seria pior do que a crença daquele a quem desejaríeis convencer. Se alguma coisa se pode impor, é o bem e a fraternidade. Mas não cremos que o melhor meio de fazê-lo admitidos seja obrar com violência. A convicção não se impõe.

A caridade consiste em fazer todos os esforços para colocar a luz em evidencia pois aquele que crê que possui uma parte da verdade está obrigado pela lei de honra e divulgá-la. O medo das consequências que possam resultar da discussão nunca deve deter o pensador. Jesus, esse sublime modelo, não pensava duas vezes antes de tratar os fariseus como raças de víboras e sepulcros caiados. Isso deve-se a que ele compreendia que todo aquele que não combate o erro do qual tem conhecimento, torna-se responsável, e converte-se em cúmplice das desgraças que esse erro pode acarretar.” - Gabriel Dellane

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