Tratar de Chico Xavier demandaria muitas intervenções, dado o seu enorme legado e sua longeva existência. Apresentá-lo, outrossim, em não mais que meia dúzia de linhas e sentenças seria atentar contra o bom senso, mas, sinteticamente que se saiba que o moço de Pedro Leopoldo nascido em 2 de abril de 1910 e falecido a 30 de junho de 2003, foi, sem que subsistam dúvidas, uma das figuras mais extraordinárias a pisar o território nacional – tanto por sua atípica mediunidade quanto pelo modo com que lidou com ela. Tais ordens de fatos são do conhecimento de toda gente, visto que pouco mais de 16 anos transcorreram desde seu decesso.
No anedotário do 'sujeito
espírita brasileiro', costuma-se afirmar que este não discute ao menos
quatro assuntos – religião, futebol, política e... Chico Xavier! Para o homem
racional, não há interdito assunto algum, sendo tudo passível de diálogo e
discussão. Compreende-se a dificuldade de certas questões, e Chico Xavier não está
longe de suscitar paixões desarrazoadas, ao contrário, é o objeto de idolatria
desavergonhada, sendo sua vida e os muitos acontecimentos desta questão de
dogma. Nenhum estudioso empenhado da Doutrina dos Espíritos poderia jamais
aceitar o dogma e a atitude que o criou – mas, os aspectos componentes da
extensa biografia do médium mineiro, que são e hão de prosseguir sendo o
combustível de diversos autores mais ou menos comprometidos com a visão
racionalista da vida, não caberiam nesta postagem, reservando-nos a analisar
caso a caso, segundo o envolvimento mais ou menos ostensivo deste com o
Espírito que passou a posteridade sob o nome de André Luiz.
Em As Vidas de Chico Xavier,
Marcel Souto Maior assim descreve o processo de confecção de Nosso Lar,
obra inaugural da parceria deste Espirito com Chico Xavier:
“O protegido de Emmanuel
tinha os poderes cada vez mais afiados. Em 1943, começou a colocar no papel
seu Best-seller, Nosso Lar, assinado por um tal de André Luiz. O texto pegou o
mineiro de surpresa. Era diferente de tudo o que ele já tinha escrito. (…) Era
para ali, ou para comunidades parecidas como aquela, que muita gente ia após a
morte. Nada de céu, de inferno, de purgatório. (…) O moço de Pedro Leopoldo,
acostumado com carroças, charretes e bois, parecia ter se transformado, de
repente, em autor de ficção científica. A trama renderia um bom videogame. (…)
Chico Xavier suou para traduzir aquelas lições do outro mundo. Escutava as
frases e titubeava com o lápis na mão, perplexo diante do mundo novo. Numa das
noites de trabalho, em julho, ele se sentiu fora do corpo e, durante duas
horas, ao lado de André Luiz e de Emmanuel, visitou uma faixa suburbana da
cidade descrita por ele. Para Chico, a tal viagem, uma das maiores surpresas de
sua vida, não ocorreu por merecimento, mas por necessidade: só assim ele
conseguiria passar para o papel, sem trair a “realidade”, o clima descrito pelo
espírito. (…) Logo após escrever Nosso Lar, seu décimo nono livro, o próprio
Chico quis estudar Psicografia. Pediu a opinião de Emmanuel e foi atendido com
uma metáfora bucólica: '— Se a laranjeira quisesse estudar o que se passa com
ela na produção das laranjas, com certeza não produziria fruto algum. Vamos
trabalhar como se amanhã já não fosse possível fazer nada. Para nós, o que
interessa agora é trabalhar.”
Este pequeno enxerto dá a chave de
diversas conclusões mui interessantes e pertinentes – como o Espiritismo
explicaria este fato ocorrido com Chico Xavier? Sendo a erraticidade um
fundamento da Doutrina, e sabendo-se pelo estudo desta que Colônias Espirituais
não existem, para onde o médium foi levado? Fato é que, mesmo após a jornada,
Chico Xavier não ficou satisfeito, pois uma vez instalada a dúvida, quis ele
estudar a medianimidade da psicografia – algo transcorrera de modo a
perturbá-lo, por certo. Pode-se conjecturar que, prático nos fenômenos comuns
as suas muitas medianimidades, e sendo o sonambulismo uma delas, lhe era comum
deslocar-se conscientemente ao largo de onde jazia seu corpo físico, de tal
conta que o que se passara consigo por intermédio de Emmanuel e André Luiz não
correspondia ao que empiricamente conhecia. O que ocorrera então? O Espiritismo
oferece uma explicação plausível; em O Livro dos Espíritos, a questão de
nº 443 oferta o seguinte:
“443. Há coisas que o extático imagina ver
e que são, evidentemente, o produto de uma imaginação marcada pelas crenças e
os preconceitos terrestres. Nem tudo o que ele vê é, portanto, real?
O que vê é real para ele; porém, como seu
Espírito está sempre sob a influência das idéias terrestres, ele pode ver à sua
maneira, ou, melhor dizendo, exprimi-lo numa linguagem adaptada aos seus
preconceitos e às idéias com as quais se nutriu, ou, aos vossos, a fim de
melhor fazer-se compreender; é neste sentido, sobretudo, que ele pode errar.”
Ao que Allan Kardec completa, em O
Livro dos Médiuns, e após, em O Céu e o Inferno:
“Médiuns extáticos:
os que, em estado de êxtase, recebem revelações da parte dos Espíritos. Muitos
extáticos são joguetes da própria imaginação e de Espíritos zombeteiros que se
aproveitam da exaltação deles. São raríssimos os que mereçam inteira confiança.”
“(...) o
êxtase é a mais incerta de todas as revelações, porquanto o estado de
sobre-excitação nem sempre importa um desprendimento de alma tão completo que
se imponha à crença absoluta, denotando muitas vezes o reflexo de preocupações
da véspera. As ideias com que o Espírito se nutre e das quais o cérebro, ou
antes o invólucro perispiritual correspondente a este, conserva a forma ou a
estampa, se reproduzem amplificadas como em uma miragem, sob formas vaporosas
que se cruzam, se confundem e compõem um todo extravagante. Os extáticos de
todos os cultos sempre viram coisas em relação com a fé de que se presumem
penetrados, não sendo, pois, extraordinário que Santa Teresa e outros, tal qual
ela saturados de ideias infernais pelas descrições, verbais ou escritas, hajam
tido visões, que não são, propriamente falando, mais que reproduções por efeito
de um pesadelo.”
Naturalmente é aceitável que Chico Xavier
manifestasse, também, o êxtase mediúnico – mas, tão difícil provar
positivamente esta hipótese, é reprová-la categoricamente. Todavia, o que se
pode pelo primeiro enxerto constatar, é que o médium mineiro longe estava de
possuir as luzes intelectuais que a ele são atribuídas pela crença geral. Do
contrário, no pleno uso da sua razão, já seria de seu conhecimento os processos
fluídicos desencadeadores da mediunidade. Outrossim, não teria dirigido seu
intento a aprovação ou censura de Emmanuel, afinal, como escreveu Allan Kardec
em O Céu e o Inferno, 'Que méritos teríamos nós se, para tudo saber,
apenas bastasse interrogar os Espíritos? Por esse preço, todo imbecil poderia
tornar-se sábio.' – sem haver empreendido estudar a mediunidade, como
denunciando-se a si próprio, Chico lega a posteridade que fora muito menos do
que lho fizeram ao vesti-lo com a roupa nova do imperador, sendo sequer
espírita. Sem conhecimento dos fundamentos da Doutrina dos Espíritos não pode
haver espíritas, afinal eles, por princípio lógico e racional, não se fazem
pela adesão a crença na reencarnação ou na mediunidade. É preciso conhecimento
para sustentar a crença – eis o que norteia a fé raciocinada, e o que de fato
faz espíritas. Por essas e muitas outras passagens da vida de Chico Xavier
inferimos pela constatação de que o maior médium brasileiro até então jamais
fora espírita - contrariando, por sinal, a prudência no lido com os Espíritos,
sua ação, ou omissão, minaram a prática espírita, contribuindo em muito para o
processo iniciado pela FEB algumas décadas antes, erigindo no seio da sociedade
um Espiritismo feito religião. Os fatos que podem fundamentar tal argumento
serão expostos e explicados em artigos futuros, bastando para o momento que o
autor espiritual de Nosso Lar seja desnudo à luz do Espiritismo, tendo
pontos essenciais de seus escritos cotejados às Obras Básicas.
Antes, todavia, um aparte interessante e
necessário - parte da mítica envolvendo André Luiz diz respeito a sua
identidade; quando de sua primeira aparição nos aposentos de Chico Xavier, o
qual dividia com um de seus irmãos, o Espirito para este apontou e, em resposta
ao médium, disse que seu nome era o mesmo do imoto adormecido. A partir de
então, mais de uma dúzia de livros apresentaram a epígrafe do Espírito, seja
como autor, seja como colaborador. E sua identidade passou a fazer parte das
rodas de conversas de seus recém-adquiridos fãs; as pistas haviam sido dadas em
Nosso Lar, e os entusiastas buscaram nos nomes celebrados da academia de
ciência fluminense o portentoso médico que, morto, viera narrar suas impressões
do 'plano espiritual'. Miguel Couto, Oswaldo Cruz e Carlos Chagas são os
nomes mais lembrados, e pelo qual seus aderentes garantem como positiva a
identidade do escrevinhador graduado. Faustino Monteiro Espozel, por outro
lado, é o azarão na casa de apostas – praticamente desconhecido, o neurologista
carioca teve seu nome divulgado na internet pelo jornalista Luciano dos Anjos
em 2004, que após pesquisar pelos nomes de 286 médicos desencarnados de 1926 a
1936, chegou a ele. Todo o trabalho detetivesco realizado é digno de nota,
respeito e exemplo para aqueles que alardeiam inverdades ou conceitos
infundadamente. Todavia, embora para si e para muitos a identidade de André
Luiz seja assunto sério, ele apenas o é se se considerado para efeito de
importância dada a este e ao médium que lhe traduziu as ideias. Para efeito
doutrinário, a obra de André Luiz não passa de um apanhado de romances que não
tange ao Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos. Diante disto, sua
aclamação é superlativa e descabida.
Faustino Espozel, por conseguinte, deu
uma contribuição bastante interessante ao Espiritismo que, não se sabe se fora
de conhecimento de Luciano dos Anjos, falecido em 2014 sem ter lançado o livro
em que exporia toda sua pesquisa na busca pela identidade de André Luiz. Em
1927, a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro promoveu um
inquérito sobre os perigos do Espiritismo, tendo em vista lançar oposição aos
médiuns receitadores da FEB e de outras instituições espíritas, que expediam
prescrições homeopáticas aos que atendiam. Desta sindicância se originou o
livro O Espiritismo no Brasil, lançado em 1931 e organizado por Leonídio
Ribeiro e Murilo Campos. A investigação elaborou algumas questões, enviadas a
12 profissionais – 1 engenheiro, 4 psiquiatras, 1 patologista, 1 legista, 3
sanitaristas e 2 neurologistas. Dentre estes dois últimos, um era justamente
Faustino Monteiro Espozel, que sustentou que a frequência as sessões mediúnicas
levariam a loucura. O que se poderia esperar deste, contudo? É um equívoco
comum atribuir autoridade e conhecimento de causa a quem não é mais do que
versado, ou laureado em uma disciplina apenas do vasto conhecimento humano – o
que sabe um médico acerca da Doutrina dos Espíritos? Ele não vê o Espírito
quando abre o tórax de seus pacientes, ele não o encontra quando diante de uma
chapa sensibilizada por raios-X revelando um crânio, sequer o vislumbra diante
dos resultados de uma tomografia computadorizada. Assim como foi preciso
estudar a medicina para ser um médico, o mesmo se dá com o Espiritismo, e até
onde apurou Luciano dos Anjos, Espozel fora católico devoto, partícipe de uma
doutrina religiosa frontalmente contrária aos postulados que embasam o Espiritismo.
No tocante a sua formação profissional, o
Espírito que deveria, por força desta pender mais para os aspectos racionais da
vida, uma vez desencarnado revela-se um poeta emotivo, capaz de compor trechos
especialmente líricos e, quiçá, constrangedores em seus romances. Um exemplo
bastante ilustrativo em que o homem de jaleco desaparece dando vazão ao
versejador se encontra em Missionários da Luz, no
capítulo 13, intitulado Reencarnação, onde se pode ler as seguintes
impressões suas acerca do mais corriqueiro dos fenômenos ligados a reprodução –
o instante da concepção:
“Através
dos condutos naturais, corriam os elementos sexuais masculinos, em busca do
óvulo, como se estivessem preparados de antemão para uma prova eliminatória, em
corrida de três milímetros, aproximadamente, por minuto. Surpreendido,
reconheci que o número deles se contava por milhões e que seguiam, em massa,
para frente, em impulso instintivo, na sagrada competição.
(…) o elemento vitorioso prosseguiu a
marcha, depois de atravessar a periferia do óvulo, gastando pouco mais de
quatro minutos para alcançar o seu núcleo. Ambas as forças, masculina e
feminina, formavam agora uma só, convertendo-se ao meu olhar em tenuíssimo foco
de luz. (…) Estava
boquiaberto, diante do que me fora dado observar.”
Será preciso a todo médico que realiza
inseminações in vitro enxugar suas lágrimas, ou tapar a própria boca diante de
um tão extraordinário fenômeno natural, neste caso em particular, executado
artificialmente? Toda esta pantomima ornamentada, este fraseado construído com
o fito de emocionar não pode, nem se propõe a ser, a exposição dos princípios
de uma doutrina – não passa de uma obra de ficção destinada a leitura
recreativa; é de supor que quem o estuda a sério padeça de alguma espécie de
dano cognitivo. Esta obra em particular tem passagens diametralmente contrárias
a Doutrina dos Espíritos. Por exemplo:
“_Você não ignora
que o corpo humano tem as suas atividades propriamente vegetativas, mas talvez
ainda não saiba que o corpo perispiritual, que dá forma aos elementos
celulares, está fortemente radicado no sangue. Na organização fetal, o
patrimônio sanguíneo é uma dádiva do organismo materno. Logo após o
renascimento, inicia-se o período de assimilação diferente das energias
orgânicas, em que o “eu” reencarnado ensaia a consolidação de suas novas
experiências e, somente aos sete anos de vida comum, começa a presidir, por si
mesmo, ao processo de formação do sangue, elemento básico de equilíbrio ao
corpo perispirítico ou forma preexistente, no novo serviço iniciado. O sangue,
portanto, é como se fora o fluido divino que nos fixa as atividades no campo
material e em seu fluxo e refluxo incessante, na organização fisiológica, nos
fornece o símbolo do eterno movimento das forças sublimes da Criação Infinita.”
O 'sujeito
espírita brasileiro' talvez não saiba de onde surgiu a ideia, mas a
alardeia sem pesar as consequências, afirmando o que acima está escrito,
segundo a qual a reencarnação se consolida apenas e tão somente aos sete anos
de idade – eis deste autor, o enxerto que sustenta esta falaciosa afirmação.
Mas, ainda mais grave, é afirmar que o períspirito está radicado no sangue. As
ligações moleculares que o unem ao corpo físico estão em toda a extensão deste,
não mais aqui que acolá. Um pequeno trecho de A Gênese (Capítulo XI) trará alguma luz a este interessante
pormenor, não apenas refutando este fragmento de André Luiz, como acabando de
vez com qualquer ministério ou equipe espiritual responsável pelo processo de
reencarnação que haja se originado da sua fértil imaginação:
“18.
Quando o Espírito tem de encarnar num
corpo humano em vias de formação, um laço fluídico, que mais não é do que uma
expansão do seu períspirito, o liga ao gérmen que o atrai por uma força
irresistível, desde o momento da concepção. À medida que o gérmen se
desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do princípio
vital e material do gérmen, o períspirito, que
possui certas propriedades da matéria, se une, molécula
a molécula, ao corpo em formação, donde o poder
dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu períspirito, se enraíza,
de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega
ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida
exterior.”
Uma vez completa a
união quando pleno o seu desenvolvimento, o que se dá no período assinalada
pela natureza em aproximadamente 38 semanas de gestação no caso do humanidade,
consolidada está a reencarnação, permitindo o nascimento. Por mais que tenhamos
empregado esforços no sentido de deslindar a questão deste período em
particular de tempo apontado por André Luiz, não foi encontrado o que o possa
justificar. Por que apenas aos 7 anos de vida? Permanece o mistério. Todavia, o
que não se mostrou tão difícil para responder foram os apontamentos seus no
tocante ao sangue e ao períspirito. Para tanto, fora preciso retirar o pó do Antigo
Testamento bíblico e ir buscar, em Levítico, capítulo 17, versículo 11, o
seguinte:
“Porque a vida
da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer
expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma.”
A vida da carne está no sangue - em vista disto, os judeus consomem carne a partir do abate ritualístico, levado a efeito por um shochet, uma espécie de clérigo açougueiro que, de acordo com os preceitos da religião judaica, executa aves e reses, buscando deixar o mínimo de sangue possível. O animal é degolado e seu sangue é drenado segundo a shechitá - após o ato, o shochet examina o corpo do animal, certificando-se de que a goela e a traqueia tenham sido seccionadas; o coração e pulmões são extraídos em sequência. Depois de examinados e sem que haja qualquer anormalidade, o abdome é aberto para que as entranhas passem pelo mesmo procedimento - enfermidades e anomalias tornam a carne trefá, ou seja, imprópria para o consumo; caso contrário, é uma carne casher, apta a ser consumida sem quaisquer ressalvas. Seria André Luiz judeu? Não para tanto, menos ainda considerando-se a identidade de Faustino Espozel, mas o Espírito parece dar crédito a citação bíblica, interpretando-a a seu modo. Quanto ao judaísmo, o patriarca Moisés é sempre recordado pelos espíritas como o que proibiu a evocação dos mortos - mas também proibiu o consumo de sangue nas refeições, uma prática comum entre os povos do oriente à época. Ainda hoje, o sangue é ingrediente na preparação de alimentos das culinárias de diversas culturas e países. André Luiz teria trazido esta reminiscência, a expressando à sua maneira na obra, contrariando em consequência a Doutrina dos Espíritos? Ou foi uma 'revelação'? O médico não parece ter tido os meios de contestar o que lhe chegava em novidades bastante estranhas, embora nem tão novas como se pode notar. Faz lembrar, cada qual a seu modo e tempo, o mesmo proceder de Roustaing que retomou o Docetimso herético em Os Quatro Evangelhos - acerca deste a postagem do presente blog datada de 3 de agosto de 2019 trata da questão.
A vida da carne está no sangue - em vista disto, os judeus consomem carne a partir do abate ritualístico, levado a efeito por um shochet, uma espécie de clérigo açougueiro que, de acordo com os preceitos da religião judaica, executa aves e reses, buscando deixar o mínimo de sangue possível. O animal é degolado e seu sangue é drenado segundo a shechitá - após o ato, o shochet examina o corpo do animal, certificando-se de que a goela e a traqueia tenham sido seccionadas; o coração e pulmões são extraídos em sequência. Depois de examinados e sem que haja qualquer anormalidade, o abdome é aberto para que as entranhas passem pelo mesmo procedimento - enfermidades e anomalias tornam a carne trefá, ou seja, imprópria para o consumo; caso contrário, é uma carne casher, apta a ser consumida sem quaisquer ressalvas. Seria André Luiz judeu? Não para tanto, menos ainda considerando-se a identidade de Faustino Espozel, mas o Espírito parece dar crédito a citação bíblica, interpretando-a a seu modo. Quanto ao judaísmo, o patriarca Moisés é sempre recordado pelos espíritas como o que proibiu a evocação dos mortos - mas também proibiu o consumo de sangue nas refeições, uma prática comum entre os povos do oriente à época. Ainda hoje, o sangue é ingrediente na preparação de alimentos das culinárias de diversas culturas e países. André Luiz teria trazido esta reminiscência, a expressando à sua maneira na obra, contrariando em consequência a Doutrina dos Espíritos? Ou foi uma 'revelação'? O médico não parece ter tido os meios de contestar o que lhe chegava em novidades bastante estranhas, embora nem tão novas como se pode notar. Faz lembrar, cada qual a seu modo e tempo, o mesmo proceder de Roustaing que retomou o Docetimso herético em Os Quatro Evangelhos - acerca deste a postagem do presente blog datada de 3 de agosto de 2019 trata da questão.
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